Dia desses, entrei em um café e pedi um
sanduíche. Veio acompanhado de uma pequena tigela com o molho barbecue da casa.
Assim que a primeira porção do molho entrou em contato com o recheio de carne
quente, fui atingida por um celestial aroma de axilas masculinas.
Em vez do enjoativo cheiro de catchup
defumado dos molhos barbecue tradicionais, aquele exalava um aroma animal –
quase afrodisíaco.
Não era nada semelhante à sensação de estar
entalada dentro de um ônibus na hora do rush. Parecia mais que eu tinha acabado
de trepar loucamente e, necessitada de fôlego, descansasse a cabeça na parte
interna dos braços do amado. Ali onde a pele é mais fina e sensível. Onde o
conjunto de braço, axila e lateral do torso formam um continuum de pele pronta a ser eriçada com as unhas em alguns
momentos – mas que também serve tão perfeitamente de travesseiro em outros.
Voltei a me concentrar no cheiro. Aos
poucos, identifiquei tomates frescos caramelizados em panela de fundo grosso,
fogo alto e atenção concentrada. E, em seguida, cominho.
O cominho (não confunda com a alcaravia, ou
kümmel) é um dos ingredientes que compõem o curry indiano. Tem um aroma
profundamente sensual e, dependendo da combinação com outros ingredientes, pode
evocar momentos olfativos sublimes, como o suor de um corpo limpo e esforçado.
Desconfio que o poder daquele molho vinha da
combinação desse condimento mágico com os tomates e a carne vermelha – ambos alimentos
com forte sabor unami, o encanto protéico que quase ninguém consegue definir,
mas deixa nossas papilas em festa.
Ando aperfeiçoando minha própria receita –
assim como tento apurar meu olfato para perceber todas as nuances que um corpo
apaixonado é capaz de produzir. Preciso de mais alguns dias à beira do fogão –
e outros tantos nos braços de Fugu. Mas assim que chegar perto do resultado que
procuro, prometo escrever a receita. A do molho, porque o perfume do corpo dos
amantes nunca tem composição definida. E vem daí seu encanto.
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