sábado, 31 de março de 2012

A cozinheira e a puta


No livro Ao Ponto, o chef Anthony Bordain descreve da maneira mais objetiva possível o que se espera de um cozinheiro profissional. Diz ele: “Você sabe preparar uma omelete ou não sabe. Você consegue fazer quinhentas omeletes em três horas – como disse que faria e como a função exige -, ou não.”
Impossível não associar a história das omeletes à de Pink, a garota de programa que contratei para animar o aniversário de 50 anos de Fugu. Ela saberia provocar uns vinte orgasmos em duas horas, com certeza.
De maneiras diferentes, Bourdain e Pink me botaram no devido lugar. Sou amadora. Na melhor das hipóteses, uma artesã esforçada. É possível que conseguisse desenvolver algum grau de proficiência, caso tivesse me dedicado a isso. Mas é o amadorismo que me dá prazer.
Não sei fazer uma omelete perfeitamente oval e amarela, no ponto exato de cozimento para que seus coágulos a deixem tão macia quanto a pele de um bebê, como ensina Gabrielle Hamilton. Não sei se o martini ideal tem que ser batido ou mexido.  Nunca consegui fazer uma vinagrete perfeita.
Jamais conseguiria fatiar uma cebola em poucos segundos, como faz um profissional. Até saberia como provocar um orgasmo em menos de cinco minutos mas, francamente, que graça teria isso?
Profissionais têm mais prazer no resultado do que no processo.
Amadores têm dois caminhos. Ou se mortificam com a própria inabilidade – que vai se revelando mais aguda à medida que o processo avança. Ou desaceleram o processo até o ponto de conseguirem acompanhá-lo – e descobrem nessa rarefação do tempo uma indispensável fonte de prazer.

2 comentários:

  1. Não entendi. Você queria abrir um puteiro ou um restaurante? Por mim pode continuar escrevendo por que na escrita, você é profissional.

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  2. Eu não queria abrir nada, só ... as páginas do meu livro. Que bom que você gostou dele.

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